Imagine ser adolescente, mas já ter livros publicados, milhares de fãs e reconhecimento sobre seu trabalho. Ou então, apenas uma criança que ainda precisa dividir o tempo entre lição de casa e brincadeiras típicas da idade, mas ter um canal de enorme sucesso no Youtube e ser reconhecida por muitas outras crianças da mesma idade. Situações como essas fazem parte da vida de alguns jovens e crianças que exploram muito bem tanto a literatura quanto a onda de vlogs.
A velocidade com que essa geração nascida em meados dos anos 90 e começo da década de dois mil, consegue realizar alguns grandes feitos utilizando uma linguagem que os aproxima de seus pares é incrível. Um fenômeno que não é exclusivo da internet. Claro que se pensar que essa é a mídia que mais cresce, que mais se modifica e por consequência mais atrai aos jovens, sobretudo pelo advento das redes sociais, corremos o risco de mesmo sem perceber fecharmos os olhos para outro movimento importante atualmente, a literatura para jovens.
Nos últimos anos notamos um grande crescimento desse nicho, os jovens estão lendo mais. Claro que perto de outros países, inclusive nossos vizinhos sul-americanos, como a Argentina, por exemplo, o brasileiro, em geral, ainda lê pouco, mas é uma situação que tem tudo para mudar com essa nova geração.
Tem motivos pra mudar, afinal, além de apenas ler, os jovens estão também escrevendo, e muito bem, por sinal.
Um grande exemplo é o da jovem Ana Beatriz Brandão. Com apenas 16 anos ela ostenta a incrível marca de 16 livros escritos e dois publicados. História que começou sem muita pretensão. ”Foi minha mãe que decidiu que eu deveria publicar o primeiro livro. Eu tinha terminado de escrever o meu quinto, Sombra de um Anjo, e ela quis ler. Disse que a história estava muito boa e que deveríamos tentar publica-lo. Foi aí que começamos a pesquisar sobre a publicação e enviamos o original para algumas editoras. Três delas aceitaram, e escolhemos a Novo Século” conta Ana.
Se o sucesso entre jovens de sua idade já é motivo de orgulho, a boa escrita fez com seu livro fosse capaz de atingir um público de outra faixa etária, mais alta, o que comprova que se a história é boa, as pessoas querem sim ler. ”Quando escrevo não foco no publico alvo. Então, quando comecei a receber mensagens de pessoas mais velhas do que eu falando sobre meus livros e, principalmente, que quando souberam que eu sou adolescente não acreditaram, fiquei muito surpresa e realizada. ” orgulha-se a jovem escritora.
Naturalmente, para alguém da sua idade, Ana Beatriz divide a literatura com outras decisões típicas da idade, como o vestibular, por exemplo. ”Estou me preparando para prestar vestibular para Design Gráfico. Eu tenho duas grandes paixões: escrever e desenhar, então resolvi investir nos dois.” explica Ana.
Fã de leituras fantásticas, as quais define como sua ”grande paixão”, Ana busca a inspiração para seus livros em autores nos quais já leu. ”É bem difícil escolher nomes. Acho que todos que li me inspiraram de alguma forma, pois despertou em mim a paixão pela leitura e pela escrita. ” diz.
O interesse de jovens, como ela, em se tornarem escritores é algo que marca essa nova geração, aos poucos acaba se mostrando uma opção para quem tem esse desejo, pessoas que pode com certeza ser inspirar daqui pra frente na própria jovem. ”Vejo como um despertar. Antes era muito difícil você ver jovens falando que queriam ser escritores, O aumento dos autores jovens mostra que nossa geração está lendo mais, está dando mais valor à literatura nacional” opina Ana.
Mas nem tudo são flores, apesar de notável crescimento, o mercado literário para jovens ou feito por jovens, ainda esbarra em questões que, caso vencidas, podem manter o bom momento desse ramo.
Na opinião de Ana, uma questão em particular, preocupa. A falta de apoio ou prestígio para autores nacionais. ‘‘O mercado literário deveria olhar com mais atenção para os autores nacionais de um modo geral, sejam jovens ou não. Sinto que ainda estamos perdendo muito espaço para os livros que vem de fora. Eu vibro a cada autor que ganha um pouco de destaque. A literatura nacional é rica em autores talentosos, e todos merecem conhecer suas histórias.’’ finaliza Ana Beatriz.
O importante é que os jovens mantenham esse tipo de pensamento, afinal, são eles que irão manter, ou não, esse viés de subida.
PEQUENOS NOTÁVEIS
Tão impressionante quanto adolescentes escritores, são crianças que fazem sucesso, sendo apenas crianças, assim como Juliana Baltar, de nove anos. Seu canal no Youtube, onde ela posta vídeos de Novelinhas da Barbie, brinquedos da Polly, desafios engraçados, teatrinhos e outros conteúdos, possui mais de um milhão de inscritos e milhares de visualizações por vídeo.
Ser reconhecido entre as crianças mostra que cada vez mais cedo os jovens começam a buscar e alcançar sucesso, nesse ponto a internet ajuda bastante.
Sempre com um cuidado especial, pois são crianças, portanto não apenas o cuidado com a exposição e rotina de estudos devem ser tratadas com atenção. ‘‘A rotina de estudos começa pela manhã quando ela vai para escola, depois ela faz o exercício de casa e estuda, depois gravamos no período da tarde, não é todo dia. Geralmente segunda, quarta e quinta’’ explica Rafaela Baltar, irmã de Juliana.
Foi inclusive de Rafaela a ideia dos vídeos. ‘‘A ideia surgiu quando eu vi a Juliana gravando as próprias brincadeiras com o celular da minha mãe, então eu perguntei se ela queria que eu gravasse e postasse no youtube, ela ficou super empolgada e topou na hora.’’ conta Rafaela.
O sucesso assim como rápido, foi inesperado. A produção e edição dos vídeos também ficam a cargo da irmã mais velha. Os vídeos são quase que no improviso, sem um roteiro, o que passa naturalidade, algo que conta muito.
Segundo Juliana, ter seguidores é o que a deixa mais feliz. ‘‘Sem eles não existiria a Juliana Baltar, só a Juliana. Os vídeos também me deixam muito feliz’’ diz Juliana. A irmã Rafaela completa. ‘‘Na escola sempre falam sobre o canal, e na rua ela é reconhecida diversas vezes’’, explica.
São casos assim que mostram uma geração precoce e ciente de como aproveitar as ferramentas que a tecnologia oferece.