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sexta-feira, novembro 22, 2024
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O filme que não fizemos

Muitas vezes enterramos nossos sonhos dentro de nós e perdemos grandes oportunidades de viver uma vida plena e feliz

 

Gutemberg vivia um momento importante em sua carreira. Depois de muitos anos de dedicação à empresa, finalmente era promovido a um cargo de chefia e com um salário poderoso.

O filme que não fizemos

Um dos compromissos de todo homem de negócios que exerce um grande cargo em uma empresa é o de participar de eventos importantes, tendo até que sacrificar momentos com a família. Gutemberg abriu mão do final de semana com a esposa e seus dois filhos para participar de um seminário sobre novas técnicas de trabalho em um luxuoso hotel de Salvador, na Bahia.

A primeira palestra era fantástica e Gutemberg prestava atenção ao palestrante e mantinha o foco no assunto que estava sendo abordado. Porém, uma coisa desviou sua atenção. Ele notou que na fileira da esquerda estava uma mulher que tinha um rosto familiar, mas ele não conseguia lembrar direito de onde a conhecia, mas notou também que ela o reconheceu porque abriu um sorriso.

Terminada a palestra, ele saiu do salão de eventos do hotel e aquela mulher o seguiu. E mais ainda, o chamou pelo nome:

-Gutemberg!

Quem era aquela mulher? Ela lembrava seu nome e ele não sabia de onde a conhecia e seria indelicado assumir esse lapso, mas ela já notava que ele havia esquecido e foi direta:

-Gutemberg, esqueceu de mim, hein? Mas tudo bem, faz mais de vinte anos e eu estou um pouco mudada. Eu sou Marta Miranda, mas todos me chamavam de Miranda, inclusive você!

-Miranda! Pôxa, é você mesmo e realmente você mudou – disse Gutemberg.

Por alguns segundos as lembranças de Gutemberg começavam a brotar. Um filme passava pela sua cabeça. Um filme de sua adolescência, quando conheceu Miranda, a mocinha que morava na sua rua e era sua melhor amiga e nada mais que isso. Gutemberg e Miranda sempre trocavam confidências, um confiava plenamente no outro. Ele era apaixonado por uma colega da escola e ela morria de amores por um garoto que trabalhava na padaria do bairro. Foram anos de cumplicidade e nunca, em momento algum ‘rolou’ um beijo ou abraço mais íntimo entre eles, era apenas amizade.

Miranda também voltou ao passado com suas lembranças. Ela lembrava-se do dia em que conheceu Gutemberg, aquele rapaz desajeitado que gostava de tocar violão. Ela sempre o ajudava a escrever as cartas de amor para a menina da escola por quem era apaixonado e ele por outro lado, ensinava tudo sobre o mundo dos homens para ela, mas nenhum deles conseguiu conquistar suas paixões.

– Gutemberg, nossa de repente viajei no passado e lembrei-me de tudo que a gente viveu! Nossa! Quantas trapalhadas – disse Miranda sem conseguir segurar o riso.

-Miranda, aquele rapaz da padaria, o Francisco, por quem você era apaixonada acabou indo embora para Portugal e depois eu soube que virou padre e, a Letícia, a menina que eu gostava nunca soube que eu estava afim dela e hoje está casada e com um monte de filhos – contou ele para a amiga.

-E você Gutemberg, como está hoje? Perguntou a amiga curiosa.

-Estou casado, tenho dois filhos e fui promovido. No fim tudo deu certo e vi que aquelas coisas da adolescência eram apenas ilusões, mas e você minha amiga, como está?

-Meu amigo, eu também me casei, só não tive filhos, porque como trabalho em uma empresa multinacional e meu trabalho exige que eu viaje, acabei optando por esperar um pouco mais para ser mãe.

-Mas e seu marido? Você não disse que casou? Gutemberg ficou curioso.

-Casei, mas depois me separei em função deste meu trabalho e encontrei outra pessoa, quer dizer, reencontrei.

-Mas então você não está sozinha?

-Gutemberg você nem vai acreditar, aquele rapaz da padaria, como você disse, realmente virou padre, mas acabou abandonando o sacerdócio. Eu o havia encontrado numa viagem a Portugal e acabei seguindo um conselho seu.

Gutemberg ficou ainda mais curioso:

-Conselho? Eu nunca me lembro de ter te dado um conselho a você!

-Uma vez você me disse que a gente tem que correr atrás do que queremos, nunca deixar nossos sonhos e desejos presos dentro de nós e foi o que eu fiz, quando encontrei o Francisco. Não pensei duas vezes e falei que sempre o amara e que se ele não fosse padre eu iria me atirar nos braços dele e então ele me disse: Pode se atirar porque estou largando a batina agora, eu também sempre te amei e nunca tive coragem de me declarar.

-Meu Deus, que loucura! Suspirou Gutemberg.

-Mas foi bom te ver Gutemberg, a gente vai se encontrar por aí, que bom que você está bem meu querido. Ah, quando eu marcar o casamento com o Francisco vou te chamar, afinal ele também era um grande amigo seu da adolescência.

Os dois se despediram e Miranda entrou no táxi rumo ao aeroporto para retornar à sua cidade, no Estado do Amazonas. Gutemberg morava no Rio de Janeiro, mas na adolescência vivia em Ribeirão Preto, ao lado de amigos como Miranda, Francisco e tantos outros que se espalharam pelo mundo. Ele agora, se lembrava do conselho que havia dado a Miranda: Corra atrás de seus sonhos, nunca deixe seus sonhos e desejos presos dentro de você!

Mas ele mesmo não seguiu esse conselho. Ele nunca amou aquela menina que estudava com ele na escola, as cartas nunca chegaram até ela e ele contava aquela historia só para Miranda não perceber a verdade. A verdade é que a grande paixão de sua vida era mesmo Miranda, que o tinha como grande amigo, e ela era apaixonada por Francisco, o seu melhor amigo e companheiro do futebol. Por ser muito correto e ao mesmo tempo tímido ou inseguro, Gutemberg nunca se declarou para Miranda. Ele escondeu esse amor a vida toda e com o tempo conseguiu se apaixonar novamente e viver feliz, mas ele poderia ter seguido seu próprio conselho e assim ter vivido uma história de amor com Miranda, mesmo que fosse só por algum tempo.

 

 

 

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