Ao pensar em um momento triste da vida das pessoas é normal imaginar que se trate da morte de um ente querido. Porém para algumas pessoas existe sim uma dor ainda pior, o desaparecimento. Talvez por sabermos que a morte, por mais triste que seja, é um processo natural da vida, sendo a única certeza que temos desde o dia de nosso nascimento. Claro que para uma mãe perder um filho é uma dor imensurável, mas o não saber, o acordar todos os dias esperando por uma notícia, uma ligação que pode nunca chegar é uma tristeza sem fim. Na tentativa de conseguir encontrar uma solução para essa terrível situação e compartilhando do mesmo problema, o desaparecimento dos filhos, duas mães fundaram em 31 de março de 1996, o que talvez hoje seja o maior e mais atuante movimento em prol da busca por pessoas desaparecidas, a Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD).
A ideia de Ivanise Esperidião da Silva e Vera Lúcia Gonçalves era criar em São Paulo alguma forma de contribuir de maneira independente para a resolução desse mal que infelizmente ainda aparenta estar longe de uma resolução e que por muitas vezes sequer chega ao conhecimento público, salvo algumas exceções, o tema não é tão abordado como deveria e poderia.
As duas se conheceram de uma forma inusitada, através de uma ferramenta importante na busca de desaparecidos, a televisão. No ano de 1996, a TV Globo exibia a novela “Explode Coração”, em que era retratado o drama de famílias que conviviam com o desaparecimento.
Para a elaboração da história, a diretora Glória Perez (que também convive com um problema de violência, o assassinato da filha Daniela Perez) convidou um grupo de mães de São Paulo com filhos desaparecidos para as gravações da novela, Ivanise e Vera estavam entre elas.
A AJUDA DA TELEVISÃO
Toda a visibilidade da novela gerou uma campanha nacional que resultou na localização de 113 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos. Estimuladas pelo resultado Ivanise e Vera decidiram criar sua própria campanha. Durante a estada no Rio de Janeiro as duas puderam conhecer dois núcleos que tratavam de pessoas desaparecidas, o “Mães da Cinelândia” e o “Movimento Nacional em Defesa das Crianças Desaparecidas”. Após conhecerem esses grupos as duas sentiram-se motivas a criar algo parecido em São Paulo. Começava dessa forma a ONG que seria nacionalmente conhecido, o “Mães da Sé”.
O nome inclusive é em alusão a outro importante trabalho realizado nesse sentido, o argentino “Mães da Praça de Maio”. Os encontros do grupo foram ficando cada vez mais frequentes e conforme o Mães da Sé ia ganhando visibilidade o interesse em ajudar acompanhava esse crescimento, em 19 anos de fundação já são mais de 10.000 casos de desaparecimento cadastrados, desses cerca de 4.322 foram solucionados. Aliás, para Ivanice ver os casos sendo solucionados é de certa forma um alento para os momentos de dor. “Tínhamos um sonho que era o de criar uma entidade que tivesse o reconhecimento do poder público e de toda a sociedade civil. Graças ao nosso trabalho, estamos transformando esse sonho em realidade e, de certa forma, amenizando a dor que sentimos em nossos corações” diz.
Infelizmente a ineficiência do poder público obriga movimentos como o Mães da Sé a existirem. Quando falamos que o problema de desaparecimento de pessoas esta longe de uma resolução, é importante atentar-se que não se trata de nenhum exagero. Para se ter uma ideia, em 1999, ano base para a última grande pesquisa nacional, o resultado apontou que por ano no Brasil, 200 mil pessoas simplesmente desapareciam.
O estado de São Paulo, por se tratar do mais populoso do país, naturalmente lidera o triste ranking, seguido por Rio de Janeiro. Na capital paulista, dados Delegacia de Pessoas Desaparecidas do Estado de São Paulo, ligada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontam que diariamente a média é de 60 casos de desaparecimento.
O grande trunfo e maior forma de divulgação da ONG são as fotos dos desaparecidos expostas em diversos locais. Embora como essa estratégia infelizmente vá perdendo a força com o passar do tempo, muito aquém da enorme exposição na época da novela.
O fato positivo que as Mães da Sé contam nos dias de hoje para a luta de encontrar seus entes desaparecidos e que não contavam na época da fundação da ONG é sem dúvida a internet. Como sabemos bem as redes sociais já são parte fundamental em diversos segmentos. E se existe essa ferramenta super interessante, porque não usar?
No facebook são cerca de 11.000 curtidas, embora o número não seja tão alto devido a importância da causa e em relação a outras páginas, no facebook da ONG são postadas as fotos, informações que certamente atingem um número alto de pessoas.
A ONG também conta com o site www.maesdase.org.br onde também são divulgadas as fotos e onde esta o formulário para cadastrar os casos.
Quando se fala em desaparecimento de pessoas apontar as causas é uma tarefa complicada, uma série de variantes podem ser consideradas. Embora o mais comum seja pensar em casos de sequestro.
O ministério da Justiça publicou em seu site, na seção Direitos Humanos, as principais causas de desaparecimentos, veja algumas delas:
Fuga do lar – conflitos familiares – Entende-se nesse caso as situações em que a criança, seja por problemas de relacionamento com a família, adaptação e também por violência doméstica, abusos, entre outros , toma a decisão de sair de casa para escapar dessas dificuldades.
Conflitos de guarda – subtração de incapaz: Casos como esse acontecem quando o casal se separa. Não havendo acordo de guarda da criança, o lado que perde o direito a estar com a criança a leva a força fugindo para outro local.
Perda por descuido, negligência, desorientação: Acontece quando a pessoa responsável pela criança acaba se distraindo, ainda que por um pequeno período, ocasionando a perda do menor.
Sequestro: Várias formas são entendidas como o sequestro para causa de desaparecimento, sendo as mais comuns: Para a prática de extorsão, chantagem, vingança, rituais de magia negra, além de raptos ainda no hospital.
Com base nesses dados, o trabalho feito pela ONG Mães da Sé é algo de extrema importância para se tentar encontrar crianças desaparecidas e pôr fim a uma dor que não diminui por nenhum momento.
A ONG oferece atendimento psicológico as mães e famílias dos desaparecidos e posteriormente as crianças encontradas; através de parceria com a Universidade Mackenzie; Encaminhamento para atendimento Psiquiátrico temos através de parceria com uma psiquiatra que atende gratuitamente essas mães em seu consultório; Assessoria Jurídica através de advogados (a) voluntários (a); Fiscalização dos órgãos Públicos com relação aos casos encaminhados pela ABCD.
O trabalho é extremamente árduo, proporcional a tristeza do desaparecimento. Porém, a vontade de encontrar os filhos da força para essas mães envolvidas nesta causa.
Se a dor do desaparecimento é grande, a esperança do reencontro é ainda maior.