Em um dia como todos os outros, o amanhecer se torna um pouco diferente. A triste notícia que se abateu sobre as nossas cabeças, nos derrubou fortemente e transformou a alegria que sentimos ao falar de futebol em uma enorme tristeza. O vazio toma conta de muitas vidas, transforma tudo em dor e sofrimento. Para muitos um esporte qualquer, para alguns, uma verdadeira paixão, um verdadeiro caso de amor.
A triste notícia da queda do avião da Chapecoense, que viajava a Colômbia para jogar a final da Copa Sul-americana, nos pegou desprevenidos. Não esperamos um acidente como este, não esperamos nenhum tipo de acidente. Mas a vida tem dessas coisas e assim, de uma hora para outra vem e muda todo o nosso caminho.
A Chapecoense vinha se destacando nos últimos anos pelos resultados que está alcançando. Nada vem ao acaso, tudo é fruto de muita organização e competência. O que começou como um sonho se transformou em um grande pesadelo desde as primeiras horas da última terça feira (29). O clube chegou a final da Copa Sul-americana e iria jogar a primeira partida desta final na quarta feira (30), contra o Atlético Nacional de Medellín na Colômbia. Junto com os jogadores da equipe viajavam também, dirigentes, membros da delegação e pelo menos 22 jornalistas que fariam a transmissão da partida.
Algumas informações já foram passadas sobre as causas do acidente, mas as investigações ainda não foram concluídas.
O futebol que em algumas vezes se torna destaque pela violência causada pelas torcidas, vivenciou talvez o seu momento de maior união e interação entre diversos clubes e torcidas do mundo inteiro. Uma verdadeira comoção tomou conta das pessoas e a emoção e o amor pelo esporte foram maiores do que tudo. Isso para ajudar um time que dentro do seu alto padrão de organização e gerenciamento, planejou voos mais altos e chegou ao céu.
A equipe do Atlético Nacional que jogaria contra a Chape preparou uma linda homenagem às pessoas que perderam suas vidas neste acidente. E o povo colombiano deu um exemplo de como o ser humano deve ser de verdade, de como o esporte deve aproximar as pessoas, ao invés de segregar.
Atendendo ao pedido do time colombiano a Conmebol declarou a Chapecoense campeã do torneio. Tais ações não devolvem as vidas perdidas neste terrível acidente, mas trazem conforto e alento para aqueles que ficam e que sofrem a ausência dos que partiram. Diversos clubes brasileiros também se manifestaram para ajudar a equipe e os familiares dos jogadores.
Nunca um esporte aproximou tanto as pessoas como o futebol nesses últimos dias. Aquela paixão que a muito nos encanta, consegue mesmo depois de tanto tempo após a sua invenção, encantar e amolecer até o mais rústico dos corações.
Em São Paulo as torcidas dos maiores clubes da cidade se reuniram em frente ao Estádio do Pacaembu para prestar uma linda homenagem a equipe catarinense. Em nenhum outro momento poderíamos imaginar esta situação. Torcidas que geralmente são notícias nos jornais pela agressividade com que tratam o futebol mostraram que o amor pela humanidade é maior do que qualquer rivalidade entre elas.
Não sabemos se acontecerá uma real mudança de comportamento ou se poderão coexistir no mesmo tempo e espaço, mas podemos acreditar que sim, é possível conviver e fazer do futebol uma verdadeira festa.
Vários lances foram feitos e refeitos durante estes dias, imaginando como seria este jogo na Colômbia. Cada lance é único e fica imortalizado em nossos pensamentos. A sensação de quem já foi ao estádio e viu seu time sair vitorioso nunca poderá ser explicada com a mesma riqueza de detalhes de quem analisa uma obra de arte. E o gol? O momento sublime do jogo. Estes sim, verdadeiras obras de arte. O grito preso na garganta se agiganta e se solta num momento único de êxtase e prazer. Nos últimos dias os risos deram lugar às lágrimas que tomaram conta de nossos rostos.
A verdade é que sempre estaremos diante desta paixão. Aprendemos desde pequenos sobre os clubes do coração de nossos pais e por esses nos apaixonamos com um fervor inimaginável. Gritamos, brigamos, xingamos, choramos. Sim, nós choramos. Tudo isso por um esporte simples, que há muito era chamado de esporte dos pobres e que com o tempo também se elitizou e conquistou todos os públicos se transformando na grande festa que vemos atualmente. Para alguns, um esporte qualquer, para muitos, nunca será só um jogo.
Por: Reinaldo Bentaja