O pinico que nos motivou a ir mais longe
Temos o costume de achar que para fazer a diferença na vida de alguém, precisamos fazer muito além do nosso alcance.
“Quando eu ganhar na mega sena, vou fundar uma ONG.”
“Quando eu acabar a faculdade, vou me dedicar várias horas semanais ao voluntariado.”
Com esse pensamento, sabe quando você vai começar a ajudar? NUNCA. Para dar o primeiro passo, podemos iniciar com pouco mas de forma profunda e com muita paixão envolvida.
O que para você pode parecer insignificante, para outras pessoas pode ser um dos maiores presentes que elas já receberam. Que é como o caso da história dessa história do pinico.
Conheci essa família da foto em 2013. No Natal daquele ano, a ONG Olhar de Bia tinha recebido cerca de 13 mil itens de doações (roupas, brinquedos, alimentos e etc) e um grande voluntário nosso, o Joaquim, nos pediu uma cesta básica para levar a esta família (três crianças, uma mãe desempregada e ex dependente química e um pai dependente químico).
Dentre todas as doações que costumamos receber, existem muitas coisas boas (com etiqueta, quase novas) e coisas que são lixos (roupa íntima usada, boneca sem cabeça, carrinho sem roda…). Eu e meu pai estávamos fazendo o manuseio desses itens quando nos deparamos com uma doação de um PINICO USADO.
Eu não acreditei quando vi aquilo e me revoltei: “Como alguém doa um pinico usado se a pessoa não gostaria de receber aquilo de presente?”. Mas mesmo assim, alguma coisa me levou a junto com a cesta básica, doar o pinico.
O Joaquim voltou dali alguns dias e nos deu o retorno: “A família agradeceu imensamente pela cesta básica e principalmente pelo pinico, porque agora os filhos não precisarão fazer suas necessidades no meio da casa!”
Eu e meu pai ficamos sem reação. Esse relato não foi de uma família que vive distante ou em um continente em guerra e sim de uma família que vive a minutos de distância! Indignados, fomos conhecê-los. A “casa” era um barraco de 5×5 do lado de um córrego, com muitos gatos ao redor para comer os ratos dali. Mesmo em extrema miséria, o que mais me impressionou daquelas crianças: Elas vieram nos recepcionar com sorrisos de orelha a orelha, felizes da vida por estarem ali.
No barraco, não tinha praticamente nenhum móvel inteiro. Além da cesta básica, levamos caixas de chocolate para as crianças. Qualquer criança normal, adoraria pegar vários chocolates para se deliciar. No caso dessas, cada uma pegou um e uma não pegou porque não estava com vontade. Essa família me marcou de uma forma tremenda. Percebi que muitas vezes reclamamos por não ter o último lançamento de um celular bacana ou de não ter acesso ao streaming da moda, sendo que vidas ao nosso lado, precisam literalmente. de um pinico.
Na pandemia, reencontrei essa família depois de 7 anos. Além de crescidos e bonitos como vocês podem ver na foto, hoje eles tem uma moradia decente e maravilhosa graças a um grupo de voluntários que ajuda na região.
Isso é a corrente do bem. Quando pessoas de coração puro precisam de ajuda e valorizam as pequenas coisas, o Bem acontece em suas vidas ❤️