Você vai ao banco e de repente repara a moça que trabalha no caixa com um desenho no punho, anda um pouco mais até uma loja e a gerente também tem um desenho no corpo, ainda que a roupa não te deixe identificar o que é, ele esta ali. Chegando em casa, passa por um grupo de jovens a caminho da faculdade e percebe que quase todos também desfilam seus desenhos pelo corpo. O que quero mostrar em todas essas situações contadas aqui é que além de você ser alguém bem observador, todas essas pessoas possuem tatuagens. Durante muito tempo a tatuagem carregou consigo um preconceito tão grande e absurdo quanto todos os outros. Não é exagero nenhum afirmar que a algum tempo atrás, e não estou me referindo ao século passado, o cidadão que tivesse uma tatuagem era sumariamente taxada como bandido, marginal, vagabundo e tantos outros adjetivos negativos. Suas chances de arrumar uma namorada era extremamente reduzida, por que os pais da pretendente jamais iriam aceitar que sua filha, criada com tanto amor e cuidado namorasse alguém que tivesse a coragem de assumir para toda a sociedade que tinha caráter duvidoso, e tudo isso, pasmem! Apenas devido a uma tatuagem, um desenho na pele.
Arrumar um emprego então, nem se fala, tarefa quase impossível, na entrevista já era dispensado.
Soma-se ao preconceito de uma geração que nem em sonho dispunha de toda a forma de comunicação e conhecimento que obtemos hoje, uma ignorância até certo ponto justificada em tempos que a única forma de se atualizar era o que passava na televisão extremamente monopolizada. Graças a Deus os tempos são outros. Ufa!
Assim como muita coisa mudou, felizmente a cabeça das pessoas (pelo menos da maioria) também acompanhou essa evolução, repare que no primeiro parágrafo, durante minha pequena narração de uma hipotética situação, mas que com certeza você que lê esse texto já passou, eu me referi a diferentes profissões, faixa etária, sexo. Isso mostra como a sociedade hoje em dia vê a tatuagem, exatamente como ela é, uma forma de arte e não mais um fator determinante para o caráter da pessoa como foi de forma cruel empregada durante muito tempo.
São mulheres, homens, jovens, velhos, empresários, médicos, vendedores e até a nossa classe de jornalistas, todos adeptos de tatuagens.
O fato é que a tatuagem já esta completa-mente inserida no contexto atual, e nossa geração já vem com uma grande parcela de pessoas tatuadas e isso só tende a crescer, assim como o número dos studios de tattoo, como são conhecidos, onde o movimento é intenso, como explica Jhonny Bergamim, tatuador e dono do Studio Jhonny Tattoo, localizado em Guarulhos. “Graças a Deus o movimento é muito bom, geralmente atendo aqui uma média de quatro clientes ao dia, fora as pessoas que entram pra perguntar sobre desenhos, valores e etc” diz Bergamim.
Muitas pessoas tem enorme vontade de fazer uma tatuagem, mais acabam adiando esse desejo, as principais causas são o medo da dor e arrependi-mento. De fato não há nada errado em ser cauteloso, pelo contrário o ideal é ter mesmo um cuidado, afinal de contas, é para a vida toda, por mais clichê que essa frase seja, ela é 100% verdadeira, depois de feita não tem volta, claro que hoje em dia já existem técnicas de remoção de tatuagem, porém extremamente caras e ainda sem total eficácia.
Arrependimento que em muitos casos, acontece por tatuagens feitas por impulso, e grande parcela relacionada ao que é pouco recomendado, tatuar o nome de namorado(a), de acordo com Bergamim isso é algo comum. “Quase todos os dias aparece gente ou querendo cobrir ou até mesmo reformar tatuagens, nome de namorado é o mais comum de aparecer. Grande parte faz sem pensar e acaba se arrependendo” conta.
O que não é o caso da estudante de Jornalismo Renata Pollini, 22. A jovem possui 4 tatuagens e esta satisfeita com elas. “Tenho uma boa relação com minhas tatuagens, mas acredito que assim como a maioria das pessoas já me peguei olhando pra elas e pensando, que poderia fazer alguma coisinha diferente” diz Renata.
Mas ainda assim não pretende parar por aí, já tem planos de fazer mais algumas. “Tenho vontade de fazer mais, ainda não sei ao certo o que, o bom da tatuagem é pensar, analisar, escolher alguém de confiança, afinal vai ficar comigo para o resto da vida né!?”. conclui Renata.
Algo que chama a atenção atualmente é a diversidade de pessoas que escolhem fazer uma tatuagem, derrubando aquela ideia machista que muitas pessoas tinham antigamente de que mulher com tatuagem não é algo legal, assim como pessoas mais velhas, isso com certeza já é coisa do passado, como diz Jhonny. ‘‘Hoje em dia (o público) é sim muito variado desde rapazes entre 18 e 20 anos até mesmo senhoras e senhores que chegam de 60 a 80 anos’’.
E isso é importante que se diga, já que muitas pessoas mais velhas tem a vontade de fazer uma tatuagem mais ficam preocupadas, achando que já passaram da idade.
Mercado de trabalho
Como foi dito anteriormente, existem alguns fatores que algumas pessoas levam em consideração na hora em que irão optar ou não pela tatuagem, e um deles é sempre muito lembrado: Como fica minha situação no mercado de trabalho? Pode me atrapalhar em minha carreira? Irá me prejudicar em minha profissão?
São muitas dúvidas, mas que em muitas vezes, seja por desinformação ou o medo de ter eventuais problemas são extremamente superestimadas. Apesar de ainda dividir opiniões, ter tatuagens não é um fator tão determinante para a contratação ou não de alguém.
De acordo com a consultora de carreiras da Catho, empresa de recrutamento online, Juliana Pereira, a tatuagem pode até ser um bônus para o candidato em algumas áreas. ‘‘Nem sempre ter desenhos pelo corpo atrapalha na busca por uma oportunidade no mercado de trabalho, pois algumas áreas de atuação passaram por uma transição de estilos e esse tipo de arte no corpo não é mal vista, chega a ser um atrativo, pois mostra o perfil descontraído e diferenciado do profissional”.
Mas é preciso usar o bom senso na maioria dos casos, observar não apenas a área de atuação, mas também a identidade da empresa, como explica Juliana. ‘‘O candidato deve avaliar o tipo de ambiente que quer trabalhar e se a organização é mais liberal ou mais conservadora, afinal cada segmento tem uma cultura própria e códigos específicos de conduta e apresentação’’ completa Juliana.
Claro que em algumas áreas, por mais que aos poucos o tabu vá sendo quebrado, cobrir suas tatuagens pode ser o mais sensato, inclusive em certos casos é até recomendado. ‘’Ainda existem aquelas áreas mais conservadoras, onde os desenhos podem ser vistos com ressalvas. Nestes casos, o melhor é evitar tatuagens muito grandes ou em regiões visíveis. Advogados, Juízes, Promotores, Médicos e Dentistas fazem parte desta realidade. Vale ressaltar que não são intituladas regras para estes profissionais, são apenas costumes’’ explica Juliana.
Mas como tudo na vida tem dois lados, existem aquelas situações em que o caminho inverso a esse é percorrido. ‘‘Algumas áreas de atuação mais liberais permitem que o profissional tenha tatuagens. As profissões adeptas a este estilo são amplas e entre estes profissionais podemos destacar os Fotógrafos, Escritores, Publicitários, Profissionais de Marketing, Cabeleireiros, Maquiadores, Designers e Profissionais de Educação Física voltados para Academias’’ finaliza Juliana.
Portanto, se deseja fazer uma tatuagem, pense em todas as possibilidades, siga sua intuição e bom senso e deixe que o tatuador faça o resto.
Veja algumas recomendações da Catho:
É de extrema importância que profissionais de áreas de atuação mais conservadoras, reflitam nos prós e contras antes de decidir fazer uma tatuagem.
Tamanho dos desenhos: Para profissionais de áreas mais conservadoras, o ideal é que escolham tatuagens pequenas e em regiões que sejam possíveis de camuflá-las
Bom senso: Se você ainda não sabe se a empresa é mais conservadora ou mais liberal, o ideal é que na entrevista o candidato esconda os desenhos para não prejudicar o próprio desempenho e imagem profissional.