Desde os anos 80 que as séries americanas fazem sucesso por
aqui, porém, a chegada do Netflix acarretou uma verdadeira
avalanche de seriados, diversas opções atendem a todos os
gostos e as maratonas viram opções para o tempo livre.
Se você procurar no dicionário vai ver que umas das definições de maratona diz: “evento ou atividade de longa duração, com efeito desgastante para os participantes”. Mas pelo menos para os fãs de séries esse significado não serve, pelo contrário, não é nem um pouco cansativo e ganha cada vez mais pessoas dispostas a esse tipo de ‘‘atividade’‘.
Quem tem o costume de acompanhar algum seriado sabe bem o quão prazeroso é fazer uma maratona de seu programa favorito.
Se antes a TV a cabo já oferecia uma gama de opções para quem tivesse interesse em fugir das opções batidas da TV aberta, atualmente o caminho para a consolidação das séries no Brasil ficou ainda mais limpo com a popularização da internet, sobretudo o Netflix, maior serviço de TV na internet do mundo com mais de 83 milhões de assinantes em 190 países.
E quando falamos que a procura por séries, entre as pessoas das mais variadas idades, chegou pra ficar não é exagero. Basta fazer uma pesquisa rápida para constatar que o gosto do brasileiro mudou. Se durante anos as telenovelas reinaram absolutas, com alguns poucos seriados para competir, a nova geração vem mudando esse cenário devido a inúmeras opções.
Há alguns anos é possível notar uma queda de audiência da televisão aberta, impulsionada por uma busca maior dos jovens por programas mais educativos como documentários ou seriados do gênero de ficção ou super-heróis.
As maratonas, quando assistem de uma vez uma temporada inteira (as principais séries possuem em média dezesseis episódios de quarenta minutos) ou então emendam um seriado no outro, é prática comum entre os fãs.
E na opinião dos especialistas, o acesso, de certa maneira fácil e barato, a todo esse material é o principal responsável por esse fenômeno. “Se você se lembrar, nos anos 1980 e 1990 consumíamos os chamados “enlatados” na TV aberta. Barrados no Baile, MacGyver, Super Vicky e Anos Incríveis são parte da infância/adolescência de muita gente que viveu esta época. Depois eles sumiram e retornaram com a TV fechada, em meados dos anos 1990, mas ainda restritas às classes mais altas. Com a democratização de acesso à internet e TV fechada às demais classes e o recente ingresso da Netflix, com valor bastante acessível e muito conteúdo dublado, hoje as séries podem ser vistas por muito mais gente”, explica Marcelo Forlani, diretor de marketing e um dos fundadores do site Omelete, o principal especializado em séries, filme e cultura Geek do Brasil.
E como citado por Marcelo, o Netflix é sem dúvida o principal responsável desse boom do mercado de séries. Aliando uma incrível estratégia de marketing e cruzamento de dados de seus usuários, o serviço se tornou rapidamente o queridinho dos brasileiros quando o assunto é acesso a esse material. “Eles tem muitos dados sobre seus usuários e os utiliza muito bem. É a partir destes dados que eles vão criando conteúdos sobre este ou aquele tema, para públicos que até então não tinham o que assistir. É o caso, por exemplo, de Grace & Frankie e House of Cards”, completa Forlani.
Para comprovar o poderio do Netflix basta analisar a velocidade com que conseguiram tomar, quase que a força, um nicho que antes era da TV a cabo. Se antes o conteúdo disponibilizado era o de séries que passavam nos canais fechados, hoje o conteúdo produzido pela própria empresa, os chamados “Originais’’ são sucesso total de audiência, com destaque para “House of Cards”, “Orange Is The New Black” e “Narcos”.
Esse cuidado em sempre conhecer os consumidores do serviço é apontado pela própria empresa como um diferencial. “O legal da Netflix é poder encontrar uma série para devorar no gênero que você preferir e conforme estiver se sentindo naquele momento. É ter a liberdade de poder assistir à série escolhida no seu próprio ritmo” diz Cindy Holland, vice-presidente de conteúdo original da Netflix.
Realmente as séries tem esse poder, o de despertar em cada indivíduo diversos tipos de sensações que irão prendê-lo na frente da tela episódio após episódio.
A estudante de jornalismo Angela Rocha, de 21 anos, é uma dessas apaixonadas por série. É dona de um Blog bem legal que fala sobre esse universo de séries e também filmes, o ‘‘Pausa Para A Série’’ ( https://pausaparaserie.wordpress.com/ ) , ela entra de cabeça nas histórias. “Normalmente todo episódio na série é diferente, mesmo que tenha referência ao anterior, o que me faz querer vê-la todo santo dia (quando possível). É um vício, e eu não acho que seja ruim”, explica a estudante.
Se identificar com os personagens é o ponto crucial para que a série seja escolhida na hora de começar a assisti-la. “Eu mesma já quis estar em Gossip Girl ou viver um dia de caça com os irmãos Winchester de Supernatural. Mas aí eu volto à realidade e vejo que muita coisa não é como na série, óbvio, mas confesso que já resolvi muito problemas na vida real usando alguns métodos da Blair Waldorf de Gossip Girl para conseguir o que quero, ou tentando arrancar repostas de alguém sem que ela perceba, e funciona, como a Piper Chapman em Orange Is The New Black” completa Angela, já deixando claro quais são algumas de suas séries preferidas.
Por outro lado o mercado de séries nacionais caminha a passos curtos no sentido de se tornarem relevantes e grandes sucessos. Anos se passaram, algumas tentativas foram feitas, mas o conteúdo nacional não emplaca. Para Marcelo Forlani, a causa não é muito difícil de ser encontrada. “Há ainda certo preconceito em relação ao conteúdo nacional, mas o principal problema é que falta uma produção mais constante. Só com a quantidade e investimento é que vamos alcançar qualidade necessária para atingir o público” explica.
Mas para ele existe sim a possibilidade de que esse cenário seja revertido. “A Globo tem apostado em minisséries. A Netflix está produzindo a série 3%, que surgiu no YouTube. Os dedos estão cruzados para que este cenário mude”, completa Forlani.
Enquanto isso os fãs não reclamam do que já tem disponível. E nem poderia ser diferente. Com tantas opções, o jeito é começar mais uma maratona.