PORTA, NO CINEMA: Contrato Vitalício

Primeiro filme do Porta dos Fundos chega aos cinemas de todo o Brasil.
O desafio foi fazer um humor diferente daquele que fazem na internet, o que
foi alcançado com êxito na telona.

Por: Handerson Faria 

Primeiro filme do Porta dos Fundos, ‘’Contrato Vitalício’’ chega aos cinemas de todo Brasil, marcando mais um projeto que tem tudo pra ser outro grande sucesso do grupo.  A Revista Tempos Modernos participou da coletiva de imprensa com todo o elenco,  na conversa eles explicam tudo sobre o longa metragem. Confira!

Se pensarmos que atualmente a internet é umas das principais plataformas de comunicação e entretenimento, que já rivaliza quase que de igual pra igual com a as tradicionais, como a TV, que pauta o jornalismo em diversos momentos, que dita conceitos e da fama quase que instantânea a muita gente, o grupo Porta dos Fundos talvez seja o que mais soube e ainda sabe como aproveitar todo esse potencial e se consolidou como o principal canal de humor da internet brasileira.

A história da trupe já é conhecida. Criado em 2012 por cinco amigos – Antônio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF – insatisfeitos com a falta de liberdade criativa da TV brasileira. Em apenas três anos, o Porta dos Fundos se tornou o quinto maior canal de entretenimento do mundo no YouTube, com mais de 12 milhões de assinantes e 2.5 bilhões de visualizações. Em 2015, o grupo abriu três novas frentes, com produções para o teatro, a televisão e o cinema.

Há cerca de quatro anos (o primeiro vídeo postado completa quatro anos no dia 6 de agosto) quando os amigos colocavam em prática a ideia de fazer humor na internet, um desejo específico era claro na cabeça dos cinco. “Desde o primeiro momento, tínhamos esse sonho de fazer um filme todos juntos e levar o humor que fazemos na internet para o cinema” conta Gregório Duvivier.

Se a ideia de criar um canal no Youtube e revolucionar o humor feito nessa plataforma já se mostrava audaciosa naquele primeiro momento, os cinco sócios parecem de fato dispostos a marcarem presença em todos os meios de mídia possíveis. Hoje eles já estão na internet, televisão com o programa na Fox, no teatro com a peça Portátil, um livro publicado e agora no cinema, com a estréia do sonhado filme.

O primeiro filme do coletivo Porta dos Fundos se chama Contrato Vitalício, o roteiro narra a história de dois amigos – Rodrigo (Fabio Porchat), um ator bem-sucedido, e Miguel (Gregorio Duvivier), diretor – que, bêbados, depois de serem premiados em um grande festival internacional de cinema, firmam o pacto de sempre trabalharem juntos, assinando um contrato improvisado em um guardanapo de papel.

No dia seguinte Miguel some misteriosamente e retorna dez anos depois, garantindo que fora abduzido por aliens do centro da Terra. Agora, pretende contar essa história no cinema, e Rodrigo terá que ser o protagonista.

Partindo dessa narrativa o filme faz diversas referências, críticas ao mundo do entretenimento, personalidades instantâneas da internet e bastidores desse mundo artístico.

Como desde o começo do canal no Youtube já existia o desejo de fazer um filme, pode-se pensar em por qual motivo o grupo que se caracteriza por realizar grandes feitos de forma rápida, que sabe usar como poucos o marketing na internet e conta com mentes tão criativas, demorou quatro anos para colocar o projeto em prática. “Uma das características do modo de trabalhar do Porta é que nunca fazemos por fazer. Queríamos um projeto em que todo mundo acreditasse e entrasse. Aconteceu no tempo em que tinha que acontecer” explica Porchat, ator e roteirista do longa metragem.

E ao que parece, realmente, as coisas aconteceram em seu tempo. Ao longo desses quatro anos de extremo sucesso do canal Porta dos Fundos no Youtube, o grupo contabilizou além de milhões de inscritos e milhares de visualizações em cada um de seus três vídeos semanais (a periodicidade seguida à risca é uma marca do grupo. Os vídeos saem pontualmente as segundas, quintas e sábados, as 11:00) diversas confusões envolvendo algumas piadas.
Vez ou outra o Porta é acusado de defender determinada situação, criticar outra, apoiar uma mais adiante e por aí vai. Nesse sentido o grupo não tem receio de desagradar alguma categoria específica e seguem com seu humor feito da mesma maneira. Na verdade eles nem enxergam essa situação como um grande problema. “É engraçado isso, eu acho que é um bom sinal, quando você está desagradando a todos, quando as pessoas acham que você esta puxando para o outro lado, isso é bom sinal” comenta Duvivier.

Exatamente por já estarem, de certa forma, vacinados contra esse tipo de problema, eles não se preocupam que algo semelhante possa ocorrer com o filme, em que o meio artístico é retratado de forma cômica e apresentando uma série de clichês. “A gente está expondo uma situação que é muito comum em cada um de nós, esse mundo do entretenimento conhecemos, vivemos diariamente esse mundo. Acho que tem sim uma crítica, uma sátira, a gente esta jogando um holofote em cima desse meio de todos os lados, mas acho que quem tem de dizer é o público sobre como isso funcionou” diz Porchat.

A respeito do filme a primeira coisa que precisa ficar claro sobre Contrato Vitalício é que ele não é de forma alguma uma extensão das esquetes do canal do Youtube, de acordo com Porchat, o DNA do grupo está no filme assim como nos esquetes, porém é outro conteúdo, para outra plataforma, uma história que tem começo, meio e fim, feito pensando em longo prazo, em uma hora e quarenta e não apenas em dois minutos.

Para quem se acostumou com o sucesso através da internet, fazer um filme, algo que é um passo grande, além de demandar um maior investimento, maior produção e tempo do que as esquetes no Youtube, esse tipo de realização é uma grande conquista, na visão do diretor do longa, Ian SBF, só o fato de concluir um filme no Brasil já é algo grande. “Acho que fazer um filme no Brasil já é sempre uma vitória, com certeza, uma vitória no geral e não apenas por sermos da internet”, diz o diretor.

Para Fábio Porchat, ter saído da internet até chegar à produção de Contrato Vitalício é motivo de orgulho. “Eu acho que é gratificante poder ver que a marca, que a gente foi lá, criou o grupo, juntou essa turma e conseguiu galgar ali no Youtube, fazer o sucesso e ter a força de chegar no cinema pra disputar com grandes produções, eu acho que isso é muito legal nesse sentido, a gente tem um público que consome o Porta dos Fundos e vê o filme como uma possibilidade real, “Ah! Vamos ver o filme do Porta!” e isso é muito legal”, conta Porchat.

Além dos quatro sócios, o elenco do filme ainda conta com figuras conhecidas dos fãs do grupo, como Thati Lopes, que interpreta Fernanda, namorada do protagonista e que é uma blogueira fitness, assim como as que vemos atualmente fazendo bastante sucesso nas redes sociais.

Esse foi um papel que inclusive ela já havia interpretado em um dos vídeos no canal. “O meu processo de construção do personagem foi todo no Snapchat, desde que eu soube que ia fazer a Fernanda eu comecei a olhar todo Instagram, todo Snapchat de todas as blogueiras minhas amigas e meu laboratório foi todo ali. Uma das minhas inspirações foi a Gabriela Pugliese” diz Thati, aos risos.

Fazer tantas coisas ao mesmo tempo, já que o filme consome bastante tempo, embora tenha sido produzido até que de forma rápida (todo o processo durou cerca de um ano, rápido para os padrões do cinema) poderia ser um problema, porém contornado com planejamento. ‘‘A gente conseguiu preparar muito bem, hoje nós temos uma frente de três meses de vídeo para outros projetos, antigamente a gente não tinha essa organização mas hoje já conseguimos prever isso’’, explica Ian. E Porchat completa. ‘‘Durante as gravações do filme a gente não gravou para o canal, geralmente a gente grava uns 6 vídeos por semana, durante as cinco do filme a gente gravou uns dois só para o Youtube, graças a essa frente’’. diz.

Quem também aparece no longa em um divertido papel é Marcos Veras, o ator e comediante interpreta de forma extremamente engraçada um jornalista de celebridade, desses tão comuns hoje em dia. Também estão no elenco, Júlia Rabello, Luís Lobianco, Rafael Portugal e Gabriel Totoro.

O filme já está nos cinemas de todo o Brasil. Se por um lado pode não soar com o mesmo tipo de humor da internet que os fãs já estão acostumados, e ao que parece esse sempre foi o grande desafio do grupo, vale a pena assistir para ver exatamente o que conseguiram fazer apostando em outra fórmula.

E nesse sentido o filme acerta em cheio, um material de qualidade, com a marca do Porta dos Fundos, algo que eles se acostumaram a fazer tão bem nos últimos 4 anos.

O que pode-se dizer é que o Porta se mostrou capaz de fazer conteúdo de qualidade não apenas na internet, foram capazes de mostrar de vez que é possível fazer de tudo e bem.

Com o perdão do trocadilho, um Contrato Vitalício com o humor.